Outubro rosa pós-pandemia: perspectiva baseada em dados

Com a chegada de outubro, mês marcado pela campanha de conscientização sobre o câncer de mama, conhecida como Outubro Rosa, a importância do diagnóstico precoce ganha destaque, especialmente no cenário pós-pandemia. Essa abordagem é crucial não apenas para a qualidade de vida das pacientes, mas também para a gestão financeira do tratamento no Brasil.

Um estudo conduzido pela Sandbox, empresa especializada em dados e analytics em saúde, revelou insights valiosos sobre os custos e procedimentos relacionados ao câncer de mama no sistema de saúde privado. A análise, que incluiu mais de 8.650 pacientes ao longo de 5 anos de utilização, reforça a necessidade do diagnóstico precoce, que traz impactos positivos tanto no aspecto clínico quanto no econômico.

 

Diagnóstico precoce impacta aspecto clínico e econômico

Quando o câncer de mama é detectado em estágios iniciais, o tratamento pode ser feito com cirurgias menos invasivas, como a quadrantectomia, um procedimento que remove apenas um quadrante da mama.

Além de preservar grande parte do tecido mamário e oferecer uma recuperação mais rápida, essa abordagem é também financeiramente vantajosa. Entre 2019 e 2024, o custo médio de uma quadrantectomia foi de R$ 7.783,7, significativamente inferior ao de uma mastectomia — cirurgia mais invasiva e indicada em casos avançados — cujo custo médio no mesmo período foi de R$ 13.408,8. Além disso, o estudo identificou um aumento contínuo no custo da mastectomia, que saltou de R$ 10.788 em 2019 para R$ 15.242 em 2023.

Esses custos ainda podem ser ampliados pela necessidade de tratamentos coadjuvantes, como radioterapia e quimioterapia, que elevam substancialmente o total financeiro do tratamento em estágios avançados

A diferença entre os dois procedimentos não se limita ao fator econômico. Enquanto a quadrantectomia é indicada em diagnósticos precoces, permitindo preservar a mama e garantir uma recuperação menos traumática, a mastectomia torna-se necessária em estágios mais avançados, quando a doença já compromete uma área significativa do tecido mamário. Para além do impacto emocional e físico que a mastectomia impõe às pacientes, ela representa um ônus financeiro considerável para o sistema de saúde, devido à sua complexidade e ao tempo de recuperação mais prolongado.

O tratamento do câncer de mama tem evoluído consideravelmente nos últimos anos, atualmente há diversas terapias medicamentosas, como terapias-alvo e imuno-oncológicos, que agem com maior eficácia em subtipos diferentes e em estágios mais avançados, garantindo uma maior taxa de cura e melhor qualidade de vida a essas mulheres.

Mapeamento da Sandbox analisa o impacto do câncer de mama em diferentes regiões do Brasil

Dados da Sandbox reforçam que “o diagnóstico precoce não apenas melhora os resultados clínicos e preserva a autoestima das pacientes, mas também resulta em economia para o setor de saúde” reforça o diretor médico. Outro dado relevante diz respeito às disparidades regionais no Brasil. O estudo da Sandbox revela que, em São Paulo, o tempo médio de internação para uma mastectomia é de 1,35 dias, enquanto no Tocantins essa média sobe para 2,33 dias, indicando variações regionais impactantes que podem ser reduzidas com estratégias de gestão mais eficientes e maior foco na equidade de acesso à saúde. A redução no tempo de internação e na necessidade de tratamentos complexos gera um impacto financeiro positivo, permitindo a otimização de recursos.

No entanto, o cenário pós-pandemia trouxe um dado alarmante: enquanto 61% das mulheres realizavam o rastreamento para o câncer de mama em 2019, esse número caiu drasticamente para apenas 31% em 2023, um retrocesso preocupante que pode aumentar os custos e os riscos futuros.

Neste Outubro Rosa, mais do que nunca, é essencial reforçar a necessidade de políticas que incentivem o rastreamento e a detecção precoce do câncer de mama. Além de salvar vidas, essa abordagem reduz os custos do tratamento, beneficiando as pacientes e trazendo sustentabilidade ao sistema de saúde.

Escrito por Alexandre Vieira.

Diretor Médico e Científico da Sandbox | Data for Health.

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